Cidade mais perigosa para os jovens, com taxa de 378,9 assassinatos para cada grupo de 100 mil habitantes, o município de Simões Filho, na região metropolitana de Salvador, tem tem a quinta economia do Estado em função do Centro Industrial de Aratu e algumas empresas do Pólo Petroquímico de Camaçari. A região metropolitana registra altos índices de crescimento nos últimos anos devido ao Pólo e ao complexo automobilístico implantado na área com a fábrica da Ford. Em seguida, no Mapa da Violência 2013, aparece Rio Largo, na região metropolitana de Maceió, com 324,1 assassinatos por 100 mil jovens. Números que se refletem no dia a dia e no clima de insegurança. Em apenas uma semana, dois bebês foram brutalmente mortos — um deles pela mãe.
Simões Filho tem 116 mil habitantes e está localizada às margens da rodovia BR-324, (Salvador/Feira de Santana), a estrada mais movimentada da Bahia. Tanto a Secretaria de Segurança Pública como a prefeitura do município explicam os altos índices de homicídios pelo fato da área de a cidade ser usada por bandidos como “ponto de desova” dos crimes de Salvador e municípios vizinhos. A prefeitura alega também que os levantamentos sobre homicídios, realizados pelo programa Mapa da Violência, seria falho por se basear nos dados registrados apenas pelo Ministério da Saúde que contabiliza os óbitos nos hospitais sem considerar a origem das vítimas. Por causa disso, diz a prefeitura, são atribuídos a Simões Filho todas as mortes de pessoas das cidades vizinhas encaminhadas para os hospitais do município.
No entanto, há casos de violência gratuita, no município, como o assassinato do motorista de táxi Pedro Augusto de Araújo, morto pelo policial militar Leandro Almeida da Silva por um motivo banal numa festa ocorrida no bairro CIA I em dezembro de 2011. Araújo foi morto após atingir por acidente com a porta do táxi a perna da namorada do policial. Desde a época do assassinato a família do motorista de táxi luta para a punição do acusado e tem realizado manifestações nas audiências do caso.
O delegado Rogério Pereira Ribeiro, que está substituindo o titular da delegacia de Simões Filho, Adaílton Adan, admite que “realmente há uma incidência (de assassinatos de jovens)”. Para Ribeiro, os homicídios de jovens estão ligados ao envolvimento com o tráfico de drogas, à falta de espaços de lazer e áreas de prática de esportes.
— Faltam atividades que preencham a ociosidade desses jovens. Isso poderia melhorar bastante — ressaltou.
O delegado acrescentou ainda como motivação o que chama de falhas na educação e exclusão social.
— A polícia não pode estar em todos os lugares ao mesmo tempo. Falta infraestrutura. Não tem iluminação adequada nas ruas — disse o delegado.
Ainda segundo Ribeiro, está sendo feita uma convocação da sociedade civil organizada para participar de reuniões para debater segurança na cidade. No entanto, ainda não há data prevista para a primeira reunião.
— É difícil. As pessoas não querem se aproximar da polícia.
Para o combate, Ribeiro destacou ainda que o alvo tem que ser o tráfico de drogas.
— Assim diminuiremos o número de homicídios — ressalta Adan.
O delegado citou ainda o caso de um adolescente de 12 anos que foi assassinado na última segunda-feira no lugar do irmão de 11 anos que, segundo investigação policial, teria envolvimento com o tráfico de drogas.
— Foi uma quadrilha rival. Temos até o nome do autor. Fizemos buscas, mas ele conseguiu fugir — disse ele.
A polícia baiana justifica os altos índices de violência pelo guerra dos pequenos traficantes de drogas no Estado. Alega que em São Paulo, por exemplo, onde uma facção criminosa monopoliza o tráfico, a situação seria mais “estável” ao passo que como na Bahia não existiria a hegemonia de uma quadrilha, as disputas são constantes.
Apesar dos altos índices de violência no Estado, segunda Secretaria de Segurança Pública, ocorreu uma queda de 30,3% nos de Crimes Violentos Letais Intencionais (CVLI), em Salvador no primeiro quadrimestre de 2013 em relação ao mesmo período de 2012. A queda no número de homicídios, latrocínios e lesões corporais seguidas de morte na capital baiana chegou a 13,2%, com 537 crimes letais no primeiro quadrimestre de 2013 contra 619 no mesmo período de 2012.
Em Maceió, bebê foi sequestrado e morto
A pequena Karina Danielly Gouveia Lima, de 1 ano e seis meses, é mais uma a entrar na lista dos quase dois mil assassinatos em Alagoas só em 2013: ela foi morta pela própria mãe, de 17 anos, com requintes de crueldade.
— A jovem confessou tudo de forma fria, sem pestanejar ou derrubar nenhuma lágrima. Ela disse que o nascimento da menina mudou a sua vida e, desde então, haviam brigas constantes com o pai e o padrasto, o que teria motivado a prática do crime. Ela disse que a criança era um peso —contou o delegado Antônio Nunes.
Na semana passada, Felipe Vicente da Silva, de dois anos, também foi morto em Maceió. Ele foi sequestrado do colo da mãe, que passou a usar as redes sociais, procurou a Policia Federal e ameaçou até acampar na frente da residência oficial do governador Teotônio Vilela Filho (PSDB). Dois dias depois, o bebê foi encontrado em um terreno baldio, enterrado em uma cova rasa. A polícia não sabe a quem atribuir o crime.
Em Rio Largo, há três anos registra-se caos administrativo. Parte da cidade foi destruída nas cheias de junho de 2010 — que destruíram 19 municípios alagoanos. Ano passado, o prefeito Toninho Lins e todos os vereadores foram presos, por corrupção. O prefeito despachava da prisão.
Lins foi reeleito. E desde o início do ano está afastado do cargo. Responde a mais de uma dezena de ações de improbidade administrativa. No lugar dele está a vice, Maria Elisa, que teve o diploma cassado por corrupção. Ela administra a cidade até que o caso seja decidido pelo Tribunal Regional Eleitoral (TRE):
— Antes que Alagoas se tornasse essa referência, suas cidades tinham casos de violência. Rio Largo carregava esse estigma de violência. Há um perfil de grupo político que se espalha aqui que é antigo. Conserva os elementos arcaicos do mando. Este grupo não trabalha com parâmetro de democracia, desarticula órgãos colegiados, enfraquece tudo o que é popular ou coletivo — disse a cientista social Ana Cláudia Laurindo, que escreve sobre violência no Estado.
— A calamidade beneficia este grupo, traz recursos para o lugar. Enfraquece os adversários, que estão perdidos no caos. E se protegem da imunidade, que vai além da parlamentar. Ela é econômica, ideológica — completa Ana Cláudia.
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